Posts com Tag ‘vinho’

No meio da noite uma dor aguda, um estranhamento mútuo sem razão. Ela se foi, não disse bem o motivo. Imagino que cansou ou que se cansa, até mesmo que é bipolar, eu não sei. Imagino que imagina coisas e as torna reais. Mas aí seria eu imaginando coisas e as tornando reais. Afinal, não é isso a imaginação?

A mente, mente.

Fé voraz que seria pior ou que seria melhor sem viver, sem sentir de verdade onde dói. Talvez no túmulo, o cúmulo do fim. Quem sabe a sombra de uma figueira antiga,  num dia cheio de céu e sol manso de inverno. Um pique-nique improvável. Dispostos sobre o chão os dias de paixão e delírio, uma fina taça de rosé, alguns cigarros, sorrisos, suspiros…

 

talvez eu devesse mudar de sala, sair da vala,
cair na água pra lembrar como é prender a respiração,
alguma forma estranha de provar pra si mesmo que ainda há vida.
Esse corpo sustenta algo além de carne e osso,
algo que sente o medo ir embora, vê o rumo saindo do prumo.
Pintando coisas no teto daquela casa escura onde vivíamos,
cores sobrepostas em tons de amarelo mostarda com azul claro.
Aquela boca vermelha cor de sangue vivo fumava um cigarro muito longo.
Carro, estardalhaço, vidros quebrando, tudo estragado.
Vinhos de qualidade duvidosa em cima das mesas da sala-de-estar.
Em cada beleza há sempre uma tristeza que não passa,
como um choro que não vem com a vida que se tem,
como o bispo que comeu a rainha e levou xeque-mate do cavalo.
Uma avenida iluminada por ideais efervescentes,
uma embarcação de vírgulas mal usadas tristonhas desafia asteriscos.
A imagem continua fora de foco mesmo depois que os letreiros sobem.

FIM