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talvez eu devesse mudar de sala, sair da vala,
cair na água pra lembrar como é prender a respiração,
alguma forma estranha de provar pra si mesmo que ainda há vida.
Esse corpo sustenta algo além de carne e osso,
algo que sente o medo ir embora, vê o rumo saindo do prumo.
Pintando coisas no teto daquela casa escura onde vivíamos,
cores sobrepostas em tons de amarelo mostarda com azul claro.
Aquela boca vermelha cor de sangue vivo fumava um cigarro muito longo.
Carro, estardalhaço, vidros quebrando, tudo estragado.
Vinhos de qualidade duvidosa em cima das mesas da sala-de-estar.
Em cada beleza há sempre uma tristeza que não passa,
como um choro que não vem com a vida que se tem,
como o bispo que comeu a rainha e levou xeque-mate do cavalo.
Uma avenida iluminada por ideais efervescentes,
uma embarcação de vírgulas mal usadas tristonhas desafia asteriscos.
A imagem continua fora de foco mesmo depois que os letreiros sobem.

FIM

Tento escrever mas não consigo, como se não conseguisse transpor em palavras as coisas do dia-a-dia. O reflexo de tudo que escrevo está exatamente no que vejo, não sei se agora os dias é que são iguais ou se sou eu quem vê sempre a mesma coisa.

Ao contrário, tenho a sensação de que nada vejo. Cansei de esperar que algo arrebatador me arraste para o seu lado torto. Sinto melhor as coisas do mundo quando estou triste e isso é engraçado, Também há graça na própria tristeza.

Sonhos desprovidos de sorte acabaram, diluíram como café instântaneo no leite, nunca mais serão sonhados assim, acordados. A força devastadora do fim levou tudo com ela e deixou marcas.

[na vitrola: Los Hermanos – Morena]