Posts com Tag ‘cigarro’

de quando em vez um gesto me faz pesar as consequências de ser e de ser assim.
e ser assim é penar pelas escolhas de antes pras coisas que são agora,
um pé entre a insegurança e a insatisfação de não estar inteiro em tudo que se faz.
um meio antigo, inimigo das paixões avassaladoras: o medo.
o medo do silêncio que precede a possibilidade de um não sonoro ou abafado,
os dedos em pedaços, juntos como se as raízes da possibilidade plantassem-se ali
e dali tirassem seu sustento, alimento imaginário das almas que suscetíveis a qualquer adversidade escondem-se nas sombras do que não são.
impelidos pelo vento que sopra em seus ouvidos refletindo o que se quer escutar, seguem sem saber pra onde ir.
em direção ao que se espera ter amanhã mas que, também, poderia ser hoje.

ser já.
que seja então.

talvez eu devesse mudar de sala, sair da vala,
cair na água pra lembrar como é prender a respiração,
alguma forma estranha de provar pra si mesmo que ainda há vida.
Esse corpo sustenta algo além de carne e osso,
algo que sente o medo ir embora, vê o rumo saindo do prumo.
Pintando coisas no teto daquela casa escura onde vivíamos,
cores sobrepostas em tons de amarelo mostarda com azul claro.
Aquela boca vermelha cor de sangue vivo fumava um cigarro muito longo.
Carro, estardalhaço, vidros quebrando, tudo estragado.
Vinhos de qualidade duvidosa em cima das mesas da sala-de-estar.
Em cada beleza há sempre uma tristeza que não passa,
como um choro que não vem com a vida que se tem,
como o bispo que comeu a rainha e levou xeque-mate do cavalo.
Uma avenida iluminada por ideais efervescentes,
uma embarcação de vírgulas mal usadas tristonhas desafia asteriscos.
A imagem continua fora de foco mesmo depois que os letreiros sobem.

FIM